O fenômeno da cultura do cancelamento

Hoje em dia, milhões querem cancelar os outros, mas ninguém quer ser cancelado! Como fundo dessa disposição de isolar o próximo, com o tempero da humilhação e um falso senso de “justiça”, vem o bullying com a cara da internet. Típico das redes sociais, cada vez mais dominadas pelos haters, esse fenômeno, na minha opinião, surgiu ao encontrar um espaço para gritar ao mundo a revolta, a frustração, o sentimento de desvalorização, as feridas abertas no individual e no coletivo, em estado bruto! Um desejo de vingança miúdo, ordinário ou até avassalador. A ordem é desestabilizar, desestruturar, destruir, seja o próximo ou a própria sociedade! Tanto faz, porque satisfaz! Não importa o lugar do planeta; não importa o nível da crueldade, o veneno em conta-gotas ou a guerra declarada! O ódio vai além da dor que a existência possa causar, porque vem acompanhado do prazer de atingir o vizinho, do poder de fragilizar sentimentos, de pisar no ego da humanidade que ignora os que se sentem no rodapé da vida! A cada mensagem, a cada discurso regado de rancor, vem o alívio. Provocar reações é o atestado de que existem, não são mais invisíveis e, de um jeito distorcido, encontram a autoestima, valorizados pela sensação de serem temidos, já que não amados! Sintomas de uma doença que sempre existiu, mas que a tecnologia ampliou em escala mundial! Que sejamos capazes, através do autoconhecimento e do senso crítico, de encontrar o antídoto para mudar essa realidade e dar mais um passo rumo à evolução. Só nesse caminho é que vale ter milhões de seguidores!

Sonia Abrão